FOCO NA META: REDUNDÂNCIA OU O SEGREDO DA MOTIVAÇÃO?
“A energia flui para onde o foco está” (Anthony Robbins)
O novo tema de pesquisa de Daniel Goleman, autor de sucessos como “Inteligência Emocional” e “Inteligência Social”, é o foco, ou a falta dele na sociedade atual. No livro recém-lançado nos EUA “Focus – the hidden driver of excellence” (e aqui no Brasil como “Foco – a atenção e seu papel fundamental para o sucesso”) a pergunta da pesquisa dele é: “Quanto a nossa distração está nos custando?” A resposta é: muito, seja em valor monetário, de tempo, desperdício de energia e desgaste emocional.
O psicólogo e administrador Herbert Simon, vencedor do Nobel de Economia com a teoria da Racionalidade Limitada, afirmou que “a riqueza de informação cria uma pobreza de atenção”. A frase, dita na década de 1950, soa atual como nunca na hiperconectividade de hoje. Com tantas informações e dados piscando e saltando aos olhos na tela do computador e smartphones, o ser humano precisa escolher a qual estímulo vai prestar atenção. Afinal, temos uma capacidade cognitiva limitada de absorção na mente consciente: algo entre 5 e 9 informações que assimilamos por segundo. Logo, o que escolhemos focar a mente consciente define o que vamos “ver”.
Veja como bem definiu a neurocientista Anne Treisman, em depoimento a Goleman, que afirma em seu livro que a atenção regula a emoção de nossa mente inconsciente, e que a “atenção executiva” da nossa mente consciente e responsável pela função motora do cérebro tem o poder de dirigir nosso foco e ignorar outras coisas. Resumindo: aquilo em que nós focamos determina nossa emoção, disparada pela mente inconsciente. A boa notícia é que nós podemos decidir, conscientemente, onde vamos focar nossa atenção.
ABORDAGENS
A programação neurolinguística (PNL) trabalha esta questão do foco em diversas abordagens. Uma delas é a relação do foco com a presença. Se o tempo gasto pela sua mente fosse dividido num gráfico de pizza, quanto tempo do dia ela passaria planejando coisas, ou seja, no futuro? Quanto tempo sua mente passa analisando ou remoendo coisas que já aconteceram, ou seja, no passado? E quanto tempo ela passa de fato atenta ao que você está fazendo agora, ou seja, no presente? 60% no futuro, 35% no passado e 5% no presente? Esta é a média das respostas que recebo. Cada vez que faço esta
pergunta aos clientes avalio o grau de surpresa nos rostos deles ao perceberem quão pouco a mente deles está engajada com o que eles estão fazendo. Afinal, ansiedade é excesso de futuro e depressão é excesso de passado. A experiência de flow, quando você nem percebe o tempo passar por estar tão envolvido numa atividade, é cada vez mais rara na sociedade atual. E chegar ao flow é um equilíbrio entre habilidade e desafio da tarefa em questão, entre atenção e motivação.
Em seu livro “Focus”, Goleman cita uma experiência feita com atletas universitários nos Estados Unidos em que eles mediram o grau de atenção – ou falta dela – durante a pré-temporada e o desempenho deles ao longo do ano. Quanto maior a interrupção dofoco, pior a performance dos atletas. Anders Piper (autor de “The shortcut to the flow”), master trainer de PNL que trabalha tanto com atletas quanto com executivos, afirma que quando o atleta sente a pressão é porque ele permitiu que algo, interno ou externo, interferisse no seu processo de flow. Ou seja, quando a pessoa sente a pressão é consequência da falta de foco. O importante é identificar como o foco foi desviado, como a pressão se manifesta, e trabalhar suas estratégias mentais: as submodalidades, as crenças e os metaprogramas envolvidos. Uma forma mais simples é voltar a experimentar o presente, ou seja, recuperar a presença.
PROBLEMA
Quando tratamos a pressão como uma falta de foco, podemos dar mais atenção à solução do problema, no caso, o foco. Neste contexto, é necessário identificar onde a pessoa está direcionando sua atenção, se em algo que está no controle dele ou não. Se ela dá muita atenção no que não pode controlar, há um desperdício de energia. Imagine um goleiro que fica reclamando do árbitro que marcou um pênalti. Qual é a chance de o árbitro voltar atrás de um pênalti depois de ter soprado o apito? Adianta o goleiro reclamar correndo o risco de ser expulso? O que está no controle do goleiro para fazer e evitar o gol de pênalti? Isso mesmo! Ele pode focar em defender o pênalti!
O segundo passo para o autoconhecimento é não focar no que não pode controlar. Isto gera uma poupança de energia. Depois a pessoa passa a perceber onde vai canalizar atenção. Logo, se ela não foca no que pode controlar, há uma área potencial a ser trabalhada. E quando a pessoa foca no que pode controlar, ela atinge a alta performance.
O objetivo é levar o executivo, o atleta, quem quer que seja, a se responsabilizar pelo resultado. O que depende dele para atingir o resultado? O que está no seu controle? O que pode fazer de diferente para atingir a meta? Se o executivo quer ser promovido e a decisão depende do seu chefe, a estratégia é focar naquilo que ele pode fazer como ele pode convencer o chefe a promovê-lo.
SOLUÇÃO
Um dos pressupostos do coaching e da PNL é focar na solução, não no problema. Às vezes, a pessoa fica tão preocupada e focada no que não dá certo que acaba “esquecendo” o que este problema está atrapalhando, ou seja, a meta final. Timothy Gallwey (autor de “O Jogo Interior do Tênis”) buscava, com seus alunos, desviar a atenção do problema. Buscava “afastar” a crítica interna, o jogador 1, dando uma tarefa diferente, seja focando para que sentido a costura da bola gira ou outro movimento qualquer. Uma vez, um aluno reclamou do seu backhand e Gallwey pediu que o atleta focasse não no backhand, mas prestasse atenção de onde a bola vinha (da direita, da esquerda, do alto, rente à rede…). Após dezenas de rebatidas, Gallwey perguntou: “E qual era o problema do seu backhand?”.
“Você não pode ficar ruminando sobre você mesmo enquanto está absorvido em uma tarefa desafiante” (Richard Davidson, neurocientista).
CONSIDERAÇÕES
A direção para onde você direciona seu foco define aquilo que sua mente vai prestar atenção. É o chamado Sistema de Ativação Reticular (SAR), que é a capacidade inconsciente de observar e conjugar todos os recursos e todas as oportunidades que nos ajudam a nos aproximar da nossa meta. Quanto mais focado você estiver no que deseja, mais oportunidades você vai enxergar para alcançar sua meta.
*Ronaldo Gueraldi – Professor do Instituto de Neurolinguística Aplicada (INAp).
Fonte: http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/foco-na-meta-redundanciaou-o-segredo-da-motivacao/75748/